Realidade
Nunca acreditei que estórias de amor como a do filme "Antes do amanhecer" fossem de verdade.
A minha racionalidade sempre me fez pensar que não seria possível que duas pessoas se encontrassem por acaso em algum lugar longe de casa, se apaixonassem e se deixassem partir sem ao menos um forma de contato ou acesso.
Isso sempre foi surreal para mim até que a Nêga me contou a sua estória.
Antes do amanhecer
Antes de partir para os fatos, vale falar um pouco sobre a contadora de estórias.
Nêga é o termo carinhoso que ela usa com uma amiga e que tomo emprestado agora para falar dessa moça linda de morrer, loira, pele muito clara, olhos verde-acinzentados e uma alegria contagiante em quase todos os momentos do dia. Não sei como ela é ao acordar, por isso me contento com os fatos que conheço.
Pois bem. Essa bela moça decidiu um dia se aventurar do outro lado do mundo e viver um tempo na Austrália. Além da cara e da coragem, ela levou alguns trocados e um companheiro de cama: um amigo fiel, companheiro e gay até os ossos. Nada mais seguro para uma moça em uma terra estranha.
Depois de algum tempo na terra dos cangurus, ela resolveu tirar uns meses de férias e conhecer a Índia. Ainda hoje não entendo esse sistema laboral australiano que permite que a pessoa passeie mais do que trabalhe, mas deixa pra lá.
Foi exatamente nessa viagem que ela viveu algo parecido com o que o Ethan Hawke e a Julie Delpy passaram em Viena.
Apesar da diferença de paisagens, a motivação era basicamente a mesma.
Como não me lembro direito dos nomes dos locais onde se passou a estória, peço licença para inventar um pouco e manter o foco nos fatos, não na minha forma de escrever.
A coisa toda começou em um ônibus de turismo escalado para um passeio logo no início de uma quente manhã indiana.
Como era de se esperar, o tipo físico dela chamava muito a atenção dos locais e era muito difícil se livrar do assédio de vendedores e guias.
Para ter um pouco de paz, ela entrou no ônibus e buscou refúgio ao lado de um mal humorado loiro cabeludo que mal disse oi durante o passeio.
No final do dia o tal cabeludo resolveu se redimir e pediu desculpas pelo bode matinal. Conversa engatada, ela descobriu que ele era dinamarquês e que estava, assim como ela, viajando por todo o país.
Como ela estava de viagem marcada para outro canto naquela mesma noite, a estória teria tudo para ter terminado aí mesmo, mas o destino resolveu mexer os pauzinhos e bagunçar a coisa novamente.
O improvável reencontro aconteceu no Taj Mahal.
Ela chegou cedo, pagou entrada e visitou todos os monumentos antes da chegada do povo que não tem grana para pagar ou não tem vontade de acordar cedo.
Já saindo do palácio, passando pelo meio da multidão, ela reconheceu a cabeleira loira e falou com ele. Era o mesmo dinamarquês, mas o humor estava sensivelmente diferente. Mais uma vez ela estava de partida naquela noite, por isso ela decidiu visitar novamente o palácio e continuar na companhia dele.
Certamente já rolava algo diferente, mas ainda não havia iniciativas de nenhum dos lados.
O Taj
No final do dia eles resolveram fazer a parte que lhes cabia e marcaram um encontro em Varanasi.
Como ela chegaria antes, a idéia era se hospedar e encontrá-lo em um lugar determinado.
Para dar um pouco mais de molho à estória, ele não apareceu. Não se dando por satisfeita, a Nêga descobriu o local onde se hospedavam os turistas e saiu perguntando se o cabeludo estava em um deles.
Depois de muito bater perna, ela descobriu o hotel e foi procurá-lo mas spo encontrou um quarto vazio. Nesse momento ela se lembrou do combinado e voltou ao local marcado para o encontro.
Gostaria de ter estado lá para ver o tamanho do sorriso que ela deve ter aberto ao ver o cabeludo lá parado esperando.
Esclarecida a situação, eles visitaram a cidade, se divertiram um monte e viveram uma micro-estória de amor nas terras de Gandhi.
Foi algo inesperado, surpreendente, mas muito legal para ambos. Por menos romântico que fosse assistir ao banhos populares no Ganges, eles se curtiram mais do que se poderia imaginar.
Tão legal que nas despedida rolaram promessas de lado a lado e, óbvio, trocas de e-mail e telefones. Por que de boba essa Nêga não tem nem a cara.
Banhos no Ganges
Infelizmente havia uma nova bagunçada de vidas prevista naquela estória de amor.
Havia um outro amor que havia sido deixado em stand by e que tinha data certa para voltar. Havia um passado impedindo a entrada do futuro. Havia o Japão no caminho da Dinamarca.
E foi esse legado que impediu um novo capítulo neste conto de amor. O cabeludo não pôde ir atrás da Nêga na Austrália, eles não se reencontraram e não rolou a parte "Antes do pôr do sol" deste episódio.
Digo isso por que vi esse filme no último feriado e satisfiz a curiosidade sobre o que rolaria se o casal se reencontrasse.
Infelizmente isso não aconteceu com a Nêga e o seu cabeludo, mas acho que valeu a pena ter ao menos tentado.
Hoje ela pode contar essa estória com um sorriso nos lábios e certamente com muito carinho pelo cara era intratável ao acordar mas que a encheu de felicidade durante alguns dias no calor da Índia.
E é isso que faz esta vida valer a pena.
Antes do pôr do sol
Sem comentários:
Enviar um comentário