Corações grandes
Era uma casa comum na Vila Maria, lá nos confins da ZN.
É fácil falar em distâncias agora que moro perto de tudo, mas na época da faculdade, aquela casa era o destino de quase todos nós. Apenas algumas ovelhas desgarradas não gostavam de ficar por lá, mas isso tem a ver com gostos e personalidades e não vem ao caso neste momento.
A casa do pequeno Zé era nossa base, nosso ponto de lançamento, nossa origem.
E tinha mesmo que ser assim. Afinal de contas, dezenas de pessoas gravitavam em torno daquela travessa da Guilherme Cotching.
Analisando as coisas com calma, acho que foi o mais próximo que cheguei de ter uma família numerosa.
E que família era aquela!
Além dos quatro ou cinco futuros engenheiros, a casa do pequeno Zé contava com uma infinidade de irmãos, parentes e agregados, bem ao estilo fértil da terra de origem de alguns deles. Afinal de contas, na Bahia ter família pequena não tem graça.
Nossos encontros eram típicos de moleques de classe média que chegavam lá de ônibus e que almoçavam esfihas enquanto tentavam estudar para as intermináveis provas.
A menção à tentativa é obrigatória já que alguns de nós adoravam abandonar a mesa de estudos e brigar contra o Koppa no bendito Super Mario Bros 4. Nunca consegui ir muito longe naquele jogo e acho que foi por isso que consegui passar pela Engenharia sem nenhuma DP.
Super Mario Bros. 4
Na verdade, até os jogadores contumazes sobreviveram ao curso, não sem cicatrizes, é verdade, mas o importante foi terminar e se livrar daquilo.
Mas o ponto aqui não é falar dos desesperos, das colas, das esfihas e das intermináveis risadas que inevitavelmente surgiam em meio ao stress.
Quero falar do pequeno Zé e do seu grande coração.
Quero falar do pequeno Zé que serviu de cupido para o meu primeiro grande amor.
Que serviu de irmão quando a barra estava pesada.
Que serviu de professor quando não havia mais para onde ir.
Que errou quase tanto quanto eu em relacionamentos, até encontrar a porta certa e entrar com convicção.
Que assombrava a todos com os vôos na quadra de vôlei.
Que não me socou quando o chamei de Incrível Hulk no primeiro dia que o vi de lentes de contato verdes.
Que não anotava uma linha sequer durante as aulas, mas conseguia nos explicar detalhes da matéria que nem sabíamos que existiam.
Que nos emprestou a casa e os recursos para o medíocre TCC que deveria ter nos reprovado, mas milagrosamente não o fez.
Que sempre gostou de famílias grandes e vai ter que me inspirar na minha nova vida.
Esse é o pequeno Zé. Esse é o nosso Zé. Esse vai ser sempre o grande Zé.
Espero que suas intermináveis viagens te levem para o caminho da felicidade, já que não há como dizer que você merece menos do que isso.
E se houver algum tropeço, basta assoviar e todos nós estaremos lá para te ajudar a levantar. É o mínimo que podemos fazer para agradecer.
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