Transplante
Sempre pensei que o namoro e o casamento seriam coisas fáceis de conseguir. Era até ingênuo achar que eu me casaria aos 28, que teria um casal de filhos e a esposa ficaria bonita para sempre.
Nada mais adolescente e católico do que esse modelo familiar quadrado e perfeitinho.
Pensei desse jeito até bem pouco tempo atrás. Até encontrar alguém que realmente me deu vontade de casar.
Nem preciso dizer que essa pessoa chegou sem se importar muito com o que eu havia planejado antes e me pegou com 32 sem desculpas para manter a pós-adolescência.
Não que isso realmente importasse depois que a encontrei, mas por que cargas d´água ela tinha que morar tão longe. Será que era pedir muito encontrar a tal "mulher para casar" aqui em Sampa ou, no máximo, em Mogi??
Para ser bem sincero, ela também não curtiu muito a idéia de namoro à distância, mas o velho charme andino venceu as barreiras e ela não teve escolha a não ser se render e gozar.
Foi aí que eu comecei a frequentar o Triângulo Mineiro, a virar "sócio" do Cinemais do Center Shopping, a entender o significado de Expozebu e a idolatrar um certo Tutu de feijão com receita de família.
Mal sabia eu que o próximo verbo da lista poderia ser "morar".
Por mais que eu curta Sampa e suas maluquices, nunca fui avesso à idéia de me mudar para outra cidade em busca de felicidade e sossego. Mesmo assim nunca havia pensado em me mudar por amor e jamais me havia passado pela cabeça me afastar ainda mais do mar.
O sonho da mudança sempre me levava para o Atlântico e para o Sul. Floripa, Joinville, Blumenau...não importava tanto o nome, mas tinha que ser em Santa Catarina. Mas como a gente só pensa que tem controle sobre a vida que leva, a minha bússula acabou apontando para o Cerrado.
Mas até que isso não é tão complicado assim.
UDI (apelido carinhoso de Uberlândia) é uma boa cidade para criar os filhos que não tenho e para não ver as peças de teatro que perco toda semana aqui em Sampa. Também dá para comer em um japonês "marromeno" e escutar música sertaneja na Transamérica.
Tenho que ser sincero ao dizer que me mudar para UDI não é o que sonhei para a minha vida, mas sou ainda mais sincero ao confessar que para ficar com ela, vale a pena.
Vale a pena não poder mais descer a Consolação a pé, respirando a fumaça dos ônibus e desviando dos mendigos que dormem em frente ao cemitério.
Vale a pena não ficar entupido na São Gabriel tentando ir para o Originla.
Vale a pena deixar de correr o risco de ter o celular roubado na Praça da República.
Vale a pena casar com a minha mineira.
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