Era uma conversa natural para eles. Amigos costumam ter esse tipo de conversa, costumam ser um pouco mais do que colegas, mesmo que o fator integrador seja o ambiente de trabalho.
Não costumava entender esse tipo de relacionamento e antipaticamente, acabava me isolando e deixando todos eles lá dentro do escritório quando ia para casa.
Mas um dia resolvi mudar e não me arrependi.
Eles me receberam de braços abertos e falaram das suas intimidades.
É como eu já disse: era normal para eles.
O assunto do almoço eram os relacionamentos à distância. A organizadora da conversa era uma menina que mantinha um relacionamento bissexto com um rapaz que morava no paradisíaco sul da Bahia, na não menos paradisíaca Cumuruxatiba.
Tudo havia começado ali mesmo, na beira da praia como mais um dos milhares de amores de verão que acontecem todos os anos, mas algo aconteceu e o amor subiu a serra, entrou no avião e continuou mesmo na doideira de São Paulo.
E eles continuam se amando até hoje, mesmo com encontros a cada dois meses ou em feriados prolongados.
Fica até chique ela dizer que passou a Semana da Pátria no sul da Bahia enquanto os pobres mortais não vão além do Guarujá. É chique e romântico.
Assim como eu, ela apostou no relacionamento e deixou de lado a dificuldade e a distância.
Obviamente, esse tipo de amor carece de muita confiança e compromisso e foi aí que entrou o comentário de um outro colega, que não acredita em amores entre extremos de São Paulo, quanto mais em estados ou regiões diferentes.
Para ele, o amor necessita de contato para viver e se manter e sem esse contato, tudo acaba se limitando a um sonho que morre aos poucos.
Ele não é tão radical quanto alguns amigos do coração que buscavam namoradas dentro do mesmo bairro, mas acaba seguindo mais ou menos a linha deles.
Por mais estranho que pareça para um cara que foi buscar a esposa lá nos confins do Triângulo Mineiro, eu concordo em parte com essa afirmação. Acredito que o amor não se sustente sozinho e necessite da rotina, do sexo e até das brigas para se manter vivo e prosperar.
Mas a acredito também que é possível encarar um projeto de amor à distância, desde que se tenha a perspectiva adequada de intensidade, objetivos e futuro.
Ou seja, se o amante achar que vale a pena, a distância em si não é suficiente para impedir o amor de acontecer e virar felicidade.
Foi exatamente isso que fiz ao dedicar mais de três anos da minha vida a um relacionamento baseado em 600km de estrada, encontros quinzenais e felicidade crescente. Para mim, ou melhor, para nós valeu o sacrifício.
É por isso que, mesmo acreditando que não exista distância para o amor, estou certo de que nem todo amor valha a pena. Tudo depende do grau de disposição dos amantes.
Uso aqui o termo amantes no sentido de pessoas que amam e não para me referir a pessoas que fazem o papel de terceira parte com relação a um dos membros de um casal.
Amante é quem ama e para amar é preciso disposição, vontade e, óbvio, amor.
Podem existir outros componentes mas julgo que esses sejam os essenciais, sem os quais a estória não acontece.
Para os nao dispostos, melhor amar perto de casa, do trabalho, da padaria.
O que me lembra de uma frase dita por uma pessoa que amei e que hoje mora nas minhas lembranças: os opostos se distraem, os dispostos se atraem.
Amor não é nada sem disposição.
Essa mesma disposição encurta distâncias e diminui saudades.
O resto é como arroz e purê: apenas acompanha.
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