quinta-feira, abril 27, 2006

Inglês

Estou terminando de ler um Tony Parsons.
Fiquei curioso em saber por que o Takeda gosta tanto do cara e comprei o livro com um cupom de presente que estava esquecido lá em casa. Tinha na cabeça a idéia de que escritores legais devem gostar de outros escritores legais e lá fui eu mergulhar no mundo absurdamente britânico do tal Parsons.

Apesar de gostar do texto dele, fiquei meio receoso por se tratar de um apanhado de artigos e não de um livro com um fio condutor, com uma estória.
O Parsons era jornalista nos tempos do punk e testemunhou um monte de coisas que alguns amigos meus dariam os testículos para compartilhar. O concerto dos Pistols no Jubileu da Rainha, o começo de carreira do Clash e mais algumas coisas que devem mesmo fazer o Takeda ter orgasmos múltiplos. Vejo muito de Parsons na forma como o Japa escreve, mas não ouso falar em cópia. Inspiração seria uma palavra mais apropriada.

Mas essa proximidade de estilos só pode ser verificada na parte musical do livro.
Quando se começa a falar de costumes, viagens e impressões sobre a sociedade, as outras culturas e a vida, os textos vão para direções completamente diferentes.
Parsons é inglês até o osso e faz questão de exercer essa prerrogativa com toda a acidez, auto-ironia e cinismo possíveis. Ele não se livra da pecha de imperialista, apesar de respeitar muito as pessoas e as culturas que descreve.
Apesar de se adaptar a todas as situações, ele segue sendo inglês e nunca conseguirá ser algo diferente.
O Takeda pode ser um nikkei, nascido no Rio Grande do Sul e residente na Argentina, mas ainda é brasileiro e ainda vive um mundo latino e escreve como um latino influenciado por montanhas de produtos culturais anglo-saxões. Ele é gaúcho e por isso mesmo é um tipo particular de latino, mas ainda assim ele pertence ao nosso mundo de futebol, samba, Carnaval e passividade.
Eles não têm como ver as coisas da mesma forma e acho isso muito bom.
Assim dá para comprar livros que falem sobre o mesmo tema, mas que passem mensagens bem diferentes, cada uma com um ponto de vista na velha e desgastada relação de colonização.

Parsons e Takeda são legais, mas é bom o japa se afastar um pouco da influência do inglês ou os amigos vão começar a achar esquisito a troca do chimarrão pelo earl grey no café da tarde.
Pensando bem, ele não corre esse risco, o que vai deixar a minha irmã cineasta ainda mais feliz.

domingo, abril 23, 2006

Mudar é preciso

Estamos passando por mais uma reestruturação lá na "firma".
É a terceira em seis meses e não deve ser a última.
Desta vez a coisa foi um pouco mais drástica e me separei definitivamente das pessoas com quem trabalhei nos últimos cinco anos e pouco. Não trabalhei todo esse tempo com todos, mas essa é a idade da convivência com o mais velho da turma. Que aliás já tinha nos abandonado no ano passado, mas isso não vem ao caso.

Fui um dos únicos da turma original que passou a fazer uma coisa diferente.
Quase todos os outros voltaram a integrar um grupo único e retomaram uma situação que vivíamos antes das mexidas, há mais ou menos 18 meses atrás. Não sei bem se é um retrocesso, mas a idéia chega bem perto disso.

Mais uma vez, a tal mudança não nos permitiu opinar ou escolher.
Fomos separados, rotulados e destinados sem poder de voto ou veto. Mais ou menos como acontece em todas as empresas do mundo.
O lado bom disso tudo é que recebi a mensagem de que eu não fui com o resto por decisão do meu chefe. Parece que ele tem outros planos para mim e isso pode ser muito bom. Claro que existe o potencial de desastre que acompanha toda mudança, mas já que estou no inferno, darei meu tradicional beijo na boca do capeta e verei que bicho dá.

Isso me faz pensar da necessidade de mudança que o mundo corporativo tem e que afeta também outros segmentos desta bagunça que chamamos de sociedade.
Por que será que sempre temos que mudar?
Será que não existe uma situação em que as escolhas são certas e o resultado é tão bom que não se precise mexer em nada?
Aparentemente não. Parece que o que muda não são as coisas, mas sim as pessoas e são essas pessoas que acabam necessitando de mudanças nas coisas. É meio confuso, mas acaba fazendo algum sentido.

De uma forma meio darwiniana, vejo que as pessoas evoluem em termos de necessidades e demandam suportes para chegar até os novos níveis de satisfação. Isso vale para uma empresa, para uma procissão e até para cachorro quente da porta do estádio: por mais satisfeitos que estejamos com algo, sempre surje a necessidade de melhorar e daí vem a famigerada mudança.

Isto não tem a mínima pretensão de ser uma tese sociológica, mas talvez tenha um bom fundo de verdade: mudamos as coisas por que mudam as pessoas.
Só queria saber quem foi o espanhol miserável que inventou a idéia de reestruturas uma área com intervalos médios de dois meses. Desse jeito não dá nem para se acostumar com os chefes, com os clientes e principalmente com os restaurantes de entorno onde se trabalha.
E depois os chefes reclamam da nossa motivação.
Pode isso?

quinta-feira, abril 13, 2006

Graus de prejuízo

Por que errar é ruim, ter que pagar pelo erro é um pouco pior, pagar por algo que não se fez é pior ainda, mas ter que reconquistar algo consolidado e que se perdeu em um instante é um tipo de dor que ninguém deveria sentir.

Eu errei, perdi a confiança de alguém que me é muito importante e agora estou em meio ao processo de reconstrução.
Talvez as coisas não voltem jamais a ser como antes, mas isso é algo que eu terei que aceitar.
Não tenho outra alternativa a não ser começar tudo de novo, retornar quatro anos no passado e construir novamente o meu castelo.
Sei que terei a companhia de Pessoa e que a coisa tende a ser mais rápida do que da primeira vez, mas não consigo me livrar da sensação de que não precisava ser assim.

Mas como só aprende quem erra...
Alguém aí me passe a próxima pedra, por favor.

quarta-feira, abril 05, 2006

Preguiça

Se eu fosse umas das vítimas do filme Seven, o assassino certamente ficaria com dúvidas sobre a justificativa para me apagar. Gula, ira ou inveja. Apesar das opções não serem tantas, ele teria que decidir no palitinho o recado que deixaria para o Brad e para o Morgan.
De qualquer maneira, se ele não escolhesse a preguiça, temo dizer que ele teria cometido um erro mais clássico do que o 007 sob a mira de um revólver na abertura de todos os filmes da série.

Isso mesmo. Preguiça é o meu maior pecado.
Tenho preguiça de acordar, preguiça de dormir e, principalmente, preguiça de trabalhar.
Minha mineira ficaria ainda mais tranquila se soubesse que não olho com interesse para outra mulher, entre outras coisas, simplesmente por preguiça de imaginar as desculpas que eu teria que inventar e o trabalho que a pulada de cerca iria me dar.
Mesmo quando estou sozinho em casa e tenho a noite inteira para curtir a balada, chego, tomo banho e logo me bate aquela preguiça de sair. Resultado: fico em casa mesmo e a vontade, seja ela qual for, passa rapidinho, logo depois do segundo naco de Gouda.

Gostaria de não ser assim.
Seria legal ter energia de sobra para trabalhar o dia inteiro e ainda curtir a noite como se fazia quando eu não tinha idade para dirigir ou competência para transar.
Fico imaginando o que será que existe no café daqueles tiozinhos que enchem a cabeleira de gel, colocam uma camisa para fora da calça e vão até o Jóquei para morder uma daquelas meninas de programa à caça de um presente de Natal antecipado.
Me encho de preguiça só de imaginar a cena. E quando isso acontece, a vontade de fazer alguma coisa passa logo. É só sentar no sofá e esperar.
Não falha nunca.