sábado, fevereiro 18, 2006

Tio, again!

Minha querida Letícia vai ganhar um irmão.
A rebeldia da minha irmã mais velha atacou novamente e foi feita nova encomenda. Novamente independente.
Não tenho como julgar atos, mas imagino consequências. A Lelê teve a sorte de contar com dois pais e duas mães postiços, além da mãe biológica. O mesmo não vai acontecer com o futuro Pezo, mas de alguma forma isso terá que ser contornado.

Sinto um misto de alegria, apreensão e pena. Tudo isso tem suas razões óbvias, mas também está ligado ao fato de que não verei o novo sobrinho nascer e sabe lá quando poderei conhecê-lo.
Meus velhos estão mais ou menos na mesma, excluindo o estado catatônico do meu pai após receber a notícia. Acho que está grisalho demais para esse tipo de emoção.
Daria tudo para saber o que se passa na cachola dele neste momento.
Imagino que tenha muito a ver com a lance de estar longe e de não poder acolher e aconselhar. Por que esse é o papel do avô e neste momento ele é muito mais avô do que pai.

Eu queria ser um pouco mais do que tio. Queria estar lá na maternidade e poder segurar o molequinho no colo ao menos uma vez.
Queria conversar com ele em Português e receber confidências na hora de voltar para casa, como faço com a Lelê.
Queria tê-los mais perto. Queria conhecê-los mais.
Queria querer menos, esperar menos, aceitar mais.
Queria ser mais.
Queria, mas não sou e tenho que me contentar com isso.
É complicado, mas vou conseguir e minha mineira vai me ajudar.

domingo, fevereiro 12, 2006

Para onde ir?

A minha mineira está sofrendo.
Ela está sendo forçada a abandonar uma parte da vida dela, uma parte vital e que exigiu litros de suor para ser erguida. Tudo em nome do amor, ou melhor, tudo em nome do nosso amor e da vida que estamos construindo.
Mas que amor é esse que a leva às lágrimas toda vez que ela conta a decisão para alguém?
Por que tem que ser tão doído e triste decidir que seu lugar é onde seu amor está?
De onde vem essa coisa que obriga a chorar antes de crescer?

Não dá para gostar disso. Preferia que tudo fosse mais fácil e ela não precisasse sofrer tanto.
Mas quem estou querendo enganar?
É assim desde o começo. Se não tivesse sido ela, teria sido eu. Se bem que eu me desvincularia com muita mais facilidade, mas isso não vem ao caso e é algo que eu terei que pagar até o fim.
Trata-se de outro tipo de sentimento. Algo que eu não entendo, mas acabo aceitando.
Toda a nossa trajetória apontava para essa ruptura.
Melhor seria ter desistido antes? Duvido. A nossa felicidade justifica qualquer sacrifício, mas não diminui meu descontentamento.
Me sinto responsável por aquelas lágrimas. Me sinto culpado por fazê-la abrir mão de algo que sempre foi essencial na vida, algo que eu nunca compartilharei.
Não tenho a preparação necessária para sentir isso. Meus esforços em abrir a "carapaça" jamais seriam suficientes para suportar esse tipo de empatia.
O máximo que consigo fazer é enxugar as lágrimas, abraçá-la e prometer que tudo vai dar certo.

Prometo por que acredito que as coisas vão mesmo se arredondar.
Acredito que nossa atitude vai nos recompensar e vai nos fazer passar por este capricho de Shiva.
Afinal de contas, depois de destruição vem a purificação e a reconstrução, certo?
Não sei bem se confundi as divindades, mas a idéia é bem essa. As lágrimas vão secar e podem até sobrar cicatrizes, mas a gente vai se dar bem.
E isso vai acontecer, por que eu sou Shiva e Vishnu e vou garantir a reconstrução.
E ai de quem fizer a minha mineira chorar de novo!

sábado, fevereiro 04, 2006

Balanço

Já se passaram quase cinco anos desde que tropeçamos um no outro naquele site.
Não me lembro bem qual era. Minto. Claro que me lembro, mas gosto dessa atitude meio blasé com relação a coisas sabidamente significativas.

Também se passaram mais de quatro anos desde que nos vimos pela primeira vez.
Poderia ter sido antes, mas um misto de preguiça e timidez fez as coisas andarem mais devagar. Deve ter sido melhor assim, já que acho difícil que um ambiente estranho para ambos pudesse nos deixar mais à vontade do que as atrações da minha cidade. Aqui eu reinava e pude oferecer coisas estrategicamente agradáveis e românticas. A "armadilha" perfeita. Ela caiu, eu caí em seguida e o resto é história.

O passo seguinte demorou um pouco mais. Foram necessários dois anos e alguns milhares de quilômetros rodados para que adotássemos aquele símbolo e focássemos o objetivo comum. Não foi da forma tradicional, mas foi do jeito que eu quis, que eu planejei nos mínimos detalhes, que eu ensaiei em cada palavra proferida. Mesmo fora do meu ambiente, acabei tomando conta do espetáculo e "mandando ver".
É certo que o povo dela não entendeu bem a minha sutileza. Eles estavam acostumados com muito mais pompa e cerimônia, mas a coisa toda acabou funcionando e ela ficou muito feliz. Aliás, ambos ficamos.
Estabelecido o símbolo, fui "recebido na família" e felicitado pela minha decisão.
Eu era quase um "mineiro". Faltava só o pulo final.

Quase um ano e meio depois do pedido, lá estava eu saindo debaixo da barra da saia da mãe e passando a dormir pela primeira vez naquele que seria o nosso castelo.
Foi engraçado abrir mão do jantar quentinho que sempre me esperava quando eu chegava do trabalho, das roupas lavadas e passadas e do falatório dos finais de tarde.
Mesmo que fosse uma coisa há muito desejada, morar sozinho naquela situação não era algo definitivo. Dali a poucos dias a minha mineira estaria ali comigo e dividiria tudo, até a vida.

E finalmente Setembro chegou!
Com ele chegou o grande dia, o "enforcamento", o grande pulo no abismo.
Obviamente eu não penso nisso de forma tão trágica, mas é engraçado usar esse tipo de termo para tratar algo tão complexo quanto o casamento.
Passar a compartilhar a vida com alguém é doido e fascinante ao mesmo tempo.
Deixar de lado coisas que fizeram parte da sua vida desde sempre e adotar ações que vão te acompanhar até o fim é algo, no mínimo, assustador. Mas não havia medo nas nossas mentes naquele final de tarde de sábado. Havia, claro, a tensão pelo evento e torcida para que desse tudo certo no dia, mas se pensássemos no que rolaria à partir do domingo só conseguíamos encontrar tranquilidade.
Estávamos juntos, estamos juntos e vamos continuar juntos.
Nos casamos no mês da Primavera e isso só pode ser um sinal. Deve ter algo a ver com renascimento e renovação, afinal de contas, a Mãe Natureza não teria tido tanto trabalho para encher o mundo de flores e filhotes, né?

Só não estou muito a fim de falar dos meus futuros filhotes neste momento, mas algo me diz que isso não vai durar muito e que a natureza vai nos chamar em breve.
Enquanto isso, os dias vão correndo e novos balanços vão sendo feitos.
Mas cada coisa tem o seu momento e este é o de agradecer e continuar curtindo.
Afinal de contas, eu já sabia que casar era bom.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Programas de casal

Cerca de 15 anos depois do lendário show na Praça do Relógio da USP, lá estava eu novamente frente a frente com o Ira! e o seu rock mais paulistano do que brasileiro.
Essa minha frase teria muito mais impacto nos anos 80 do que hoje, mas quem esteve lá sabe do que estou falando.

Algumas diferenças entre os dois shows: 15 anos de rugas, calvície e cerveja; a companhia da minha mineira (no outro eu estava sozinho); o formato acústico e o som cristalino do CIE Music Hall.
Tudo era diferente e ao mesmo tempo nada havia mudado. Era o mesmo Edgar esmerilhando e o Nasi brigando com o mundo. Era o André suando em bicas e o Gaspa com a sua discrição.
Obviamente que o show de 89 não contava com aquele monte de músicos nem com a incansável percussionista Michelle Abu, mas tenho que admitir que esse tipo de frescura não pegaria bem no final dos anos 80.

Como em todo show acústico, o público fica sentado e espremido entre gordinhos, garçons e folgados em geral.
Esse talvez tenha sido o grande ponto fraco do show, mas não dá para falar mal de um grupo que só toca sucessos e que ganha de presente (e exibe com orgulho) uma bandeira do Estado de São Paulo. É nóis!

Isso aconteceu no dia 10 de dezembro e poderia ter encerrado meu ano cultural com chave de ouro se não tivesse pintado um certo espectro na nossa frente.

Eu já tinha visto o Fantasma da ópera (tente também este link) antes. Era 1994 e eu estava em Londres. O Teatro era o Her Majesty´s e o meu lugar era praticamente um poleiro onde não havia espaço para os joelhos (e olha que eu só tenho 1.70m).

Por tudo isso, a expectativa era grande e a opinião de alguns amigos jetsetters ecoava na minha cabeça. Segundo eles, a produção era legal mas não se comparava ao original. Como eles estavam falando da Broadway, eu não fazia idéia do que se tratava. Eu ainda tinha fixa na cabeça a lembrança do barquinho "navegando" pelo palco em meio a uma névoa densa e aparentemente fria.

Chegamos ao Teatro Abril com pouca antecedência. Acho que nossa folga era de, no máximo, 20 minutos, tempo suficiente para sincronizar o passo com a tia da minha mineira e localizar o nosso posto.
Ficamos no primeiro camarote do lado esquerdo do teatro, o que se revelou como uma parcial vantagem: estávamos muito mais perto do que o povo do balcão central, mas não conseguiamos ver o que se passava no lado esquerdo do fundo do palco. Mas como dizem nos botecos da vida, o que os olhos não vêem...

Além do óbvio, o que me chamou a atenção no espetáculo foi a atriz principal, um ruiva (????) magrinha e bonita chamada Sara Sarres.
Apesar de uma certa amiga ligada às artes dizer que ela faz parte do segundo elenco, fiquei tão impressionado com a voz - e por que não dizer, com a beleza - da menina, que ergui uma parede anti-críticas e passei a considerá-la a melhor parte da noite.
Depois da companhia da minha mineira, claro.

Como já era de se esperar, o ponto que mais nos agradou - e emocionou - foi o dueto durante "All I ask of you". Para a gente, aquela era a "música do noivo" e não poderia ser diferente. Fingi que não chorei e apertei a mão da mineira para que ela tivesse certeza que ambos estávamos sintonizados na música.
Ela sim, chorou e sorriu. Mistura plenamente aceitável e altamente recompensadora.
Terminamos a noite em meio a um mar de gente, carros e táxis, driblando os flanelinhas e praticamente parando a Brigadeiro até que a minha mineira e a tia dela conseguissem entrar no carro.
Foi bom, emocionante, desopilante e mais outros antes que não me ocorrem neste momento.
Não era Londres, o Her Majesty´s Theatre ou mesmo a Broadway, mas serviu ao propósito. E muito bem por sinal.
O próximo evento da série deve ser o show da banda do senhor Hewson, mas isso é uma outra e curiosíssima estória.