Muita gente diz que estou na profissão errada, que eu deveria ser terapeuta ou, pior, que eu só preciso do diploma para sair por aí consertando o mundo e suas manias.
Outros dizem que eu deveria ser cozinheiro, guia turístico, colunista de jornal e outras coisas que nada têm a ver com a minha atividade atual.
De tudo isso, o que mais me dá prazer é a primeira parte que, mesmo feita sem nenhuma base teórica, acaba dando vários resultados positivos para as pessoas com quem converso.
É claro que não posso dizer que todo mundo encontra a solução dos seus problemas, mas entendo que acabo contribuindo para que a pessoa encontre suas próprias respostas, principalmente por que me coloco na posição de ouvinte atento e de opinador com respeito, o que invariavelmente é o que as pessoas precisam para seguir em frente.
Uma parte engraçada nessa vida de psicólogo amador é quando o necessitado sou eu.
Aí a coisa muda de figura e todos os meus conselhos perdem a sua efetividade.
Não adianta ninguém tentar conversar, me ajudar ou me animar. Nada funciona e eu sigo no buraco até que me decido a sair dele e efetivamente saio. Quando tenho um problema, eu me fecho e só saio quando melhoro.
Considero isso um defeito, mais do que uma capacidade de sobrevivência, coisa que eu admito que é forte em mim. Defeito por que afasta as pessoas de mim e impede que se preocupem comigo. Quer dizer, elas se preocupam, mas eu me isolo e ninguém fica feliz.
Se eu não estivesse em um rotina de estresse e raiva do mundo, talvez ninguém precisasse se preocupar comigo, mas infelizmente isso não está acontecendo e quando consegue se livrar das próprias frustrações e medos, a Minha Mineira vem babando para cima de mim e dos meus perrengues.
Pena que ela não pode fazer nada. Minto. Não que ela não possa, eu é que não deixo que ela faça nada.
Aliás, que não deixo que ninguém faça nada.
Somos só eu e minha casca.
Por enquanto tem sido suficiente.
Pena que seja assim.
É meio solitário e escuro às vezes.
quarta-feira, maio 30, 2007
quarta-feira, maio 23, 2007
Abrir a mente
Livre Pensador
Há algum tempo recebi um convite de um colega para servir de árbitro na revisão de uma prova. Tratava-se de avaliar uma questão de Física que recebera nota zero. O aluno contestava tal conceito, alegando que merecia nota máxima pela resposta, a não ser que houvesse uma "conspiração do sistema" contra ele. Professor e aluno concordaram em submeter o problema a um juiz imparcial, e eu fui o escolhido. Chegando à sala de meu colega, li a questão da prova, que dizia: "Mostre como pode-se determinar a altura de um edifício bem alto com o auxilio de um barômetro."
A resposta do estudante foi a seguinte: "Leve o barômetro ao alto do edifício e amarre uma corda nele; baixe o barômetro até a calçada e em seguida levante, medindo o comprimento da corda; este comprimento será igual à altura do edifício."
Sem dúvida era uma resposta interessante, e de alguma forma correta, pois satisfazia o enunciado. Por instantes vacilei quanto ao veredicto. Recompondo-me rapidamente, disse ao estudante que ele tinha forte razão para ter nota máxima, já que havia respondido a questão completa e corretamente.
Entretanto, se ele tirasse nota máxima, estaria caracterizada uma aprovação em um curso de física, mas a resposta não confirmava isso. Sugeri então que fizesse uma outra tentativa para responder a questão. Não me surpreendi quando meu colega concordou, mas sim quando o estudante resolveu encarar aquilo que eu imaginei lhe seria um bom desafio. Segundo o acordo, ele teria seis minutos para responder à questão, isto após ter sido prevenido de que sua resposta deveria mostrar, necessariamente, algum conhecimento de física.
Passados cinco minutos, ele não havia escrito nada, apenas olhava pensativamente para o forro da sala. Perguntei-lhe então se desejava desistir, pois eu tinha um compromisso logo em seguida, e não tinha tempo a perder. Mais surpreso ainda fiquei quando o estudante anunciou que não havia desistido. Na realidade tinha muitas respostas, e estava justamente escolhendo a melhor.
Desculpei-me pela interrupção e solicitei que continuasse. No momento seguinte ele escreveu esta resposta: "Vá ao alto do edifico, incline-se numa ponta do telhado e solte o barômetro, medindo o tempo t de queda desde a largada até o toque com o solo.
Depois, empregando a fórmula h = (1/2)gt^2 , calcule a altura do edifício."
Perguntei então ao meu colega se ele estava satisfeito com a nova resposta, e se concordava com a minha disposição em conferir praticamente a nota máxima à prova. Concordou, embora sentisse nele uma expressão de descontentamento, talvez inconformismo.
Ao sair da sala lembrei-me que o estudante havia dito ter outras respostas para o problema. Embora já sem tempo, não resisti à curiosidade e perguntei-lhe quais eram essas respostas.
"Ah, sim!" - disse ele - "há muitas maneiras de se achar a altura de um edifício com a ajuda de um barômetro".
Perante a minha curiosidade e a já perplexidade de meu colega, o estudante desfilou as seguintes explicações.
"Por exemplo, num belo dia de sol pode-se medir a altura do barômetro e o comprimento de sua sombra projetada no solo, bem como a do edifício". Depois, usando-se uma simples regra de três, determina-se à altura do edifício. "Um outro método básico de medida, aliás bastante simples e direto, é subir as escadas do edifício fazendo marcas na parede, espaçadas da altura do barômetro. Contando o número de marcas ter-se-á a altura do edifício em unidades barométricas".
"Um método mais complexo seria amarrar o barômetro na ponta de uma corda e balançá-lo como um pêndulo, o que permite a determinação da aceleração da gravidade (g). Repetindo a operação ao nível da rua e no topo do edifício, tem-se dois g's, e a altura do edifício pode, a princípio, ser calculada com base nessa diferença."
"Finalmente", - concluiu, - "se não for cobrada uma solução física para o problema, existem outras respostas. Por exemplo, pode-se ir até o edifício e bater à porta do síndico. Quando ele aparecer diz-se: "Caro Sr. síndico, trago aqui um ótimo barômetro; se o senhor me disser a altura deste edifício, eu lhe darei o barômetro de presente.".
A esta altura, perguntei ao estudante se ele não sabia qual era a resposta 'esperada' para o problema. Ele admitiu que sabia, mas estava tão farto com as tentativas dos professores de controlar o seu raciocínio e cobrar respostas prontas com base em informações mecanicamente arroladas, que ele resolveu contestar aquilo que considerava, principalmente, uma farsa.
----------------------------------------------------------------------------------
"Não basta ensinar ao homem uma especialidade, porque se tornará assim uma máquina utilizável e não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena ser empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto"
Albert Einstein
Há algum tempo recebi um convite de um colega para servir de árbitro na revisão de uma prova. Tratava-se de avaliar uma questão de Física que recebera nota zero. O aluno contestava tal conceito, alegando que merecia nota máxima pela resposta, a não ser que houvesse uma "conspiração do sistema" contra ele. Professor e aluno concordaram em submeter o problema a um juiz imparcial, e eu fui o escolhido. Chegando à sala de meu colega, li a questão da prova, que dizia: "Mostre como pode-se determinar a altura de um edifício bem alto com o auxilio de um barômetro."
A resposta do estudante foi a seguinte: "Leve o barômetro ao alto do edifício e amarre uma corda nele; baixe o barômetro até a calçada e em seguida levante, medindo o comprimento da corda; este comprimento será igual à altura do edifício."
Sem dúvida era uma resposta interessante, e de alguma forma correta, pois satisfazia o enunciado. Por instantes vacilei quanto ao veredicto. Recompondo-me rapidamente, disse ao estudante que ele tinha forte razão para ter nota máxima, já que havia respondido a questão completa e corretamente.
Entretanto, se ele tirasse nota máxima, estaria caracterizada uma aprovação em um curso de física, mas a resposta não confirmava isso. Sugeri então que fizesse uma outra tentativa para responder a questão. Não me surpreendi quando meu colega concordou, mas sim quando o estudante resolveu encarar aquilo que eu imaginei lhe seria um bom desafio. Segundo o acordo, ele teria seis minutos para responder à questão, isto após ter sido prevenido de que sua resposta deveria mostrar, necessariamente, algum conhecimento de física.
Passados cinco minutos, ele não havia escrito nada, apenas olhava pensativamente para o forro da sala. Perguntei-lhe então se desejava desistir, pois eu tinha um compromisso logo em seguida, e não tinha tempo a perder. Mais surpreso ainda fiquei quando o estudante anunciou que não havia desistido. Na realidade tinha muitas respostas, e estava justamente escolhendo a melhor.
Desculpei-me pela interrupção e solicitei que continuasse. No momento seguinte ele escreveu esta resposta: "Vá ao alto do edifico, incline-se numa ponta do telhado e solte o barômetro, medindo o tempo t de queda desde a largada até o toque com o solo.
Depois, empregando a fórmula h = (1/2)gt^2 , calcule a altura do edifício."
Perguntei então ao meu colega se ele estava satisfeito com a nova resposta, e se concordava com a minha disposição em conferir praticamente a nota máxima à prova. Concordou, embora sentisse nele uma expressão de descontentamento, talvez inconformismo.
Ao sair da sala lembrei-me que o estudante havia dito ter outras respostas para o problema. Embora já sem tempo, não resisti à curiosidade e perguntei-lhe quais eram essas respostas.
"Ah, sim!" - disse ele - "há muitas maneiras de se achar a altura de um edifício com a ajuda de um barômetro".
Perante a minha curiosidade e a já perplexidade de meu colega, o estudante desfilou as seguintes explicações.
"Por exemplo, num belo dia de sol pode-se medir a altura do barômetro e o comprimento de sua sombra projetada no solo, bem como a do edifício". Depois, usando-se uma simples regra de três, determina-se à altura do edifício. "Um outro método básico de medida, aliás bastante simples e direto, é subir as escadas do edifício fazendo marcas na parede, espaçadas da altura do barômetro. Contando o número de marcas ter-se-á a altura do edifício em unidades barométricas".
"Um método mais complexo seria amarrar o barômetro na ponta de uma corda e balançá-lo como um pêndulo, o que permite a determinação da aceleração da gravidade (g). Repetindo a operação ao nível da rua e no topo do edifício, tem-se dois g's, e a altura do edifício pode, a princípio, ser calculada com base nessa diferença."
"Finalmente", - concluiu, - "se não for cobrada uma solução física para o problema, existem outras respostas. Por exemplo, pode-se ir até o edifício e bater à porta do síndico. Quando ele aparecer diz-se: "Caro Sr. síndico, trago aqui um ótimo barômetro; se o senhor me disser a altura deste edifício, eu lhe darei o barômetro de presente.".
A esta altura, perguntei ao estudante se ele não sabia qual era a resposta 'esperada' para o problema. Ele admitiu que sabia, mas estava tão farto com as tentativas dos professores de controlar o seu raciocínio e cobrar respostas prontas com base em informações mecanicamente arroladas, que ele resolveu contestar aquilo que considerava, principalmente, uma farsa.
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"Não basta ensinar ao homem uma especialidade, porque se tornará assim uma máquina utilizável e não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena ser empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto"
Albert Einstein
sexta-feira, maio 18, 2007
Vão com Deus
Para Edu e Nat
Tive uma conversa com o Coordenador da Comissão Técnica do Céu, meu querido amigo Judas Tadeu, e acordei uma série de táticas para quando vocês estiverem fora.
O primeiro acerto foi garantir que vocês voltem, por que visitar Boston uma vez quando o curso já tiver acabado é uma coisa, fazer dos States um destino frequente de férias é algo que nem os portenhos merecem.
Depois tratamos de temas como saúde, felicidade, diversão e coisas afins.
Achei prudente reforçar algo que vocês costumam levar muito bem. Nunca é demais uma ajuda divina em algo tão humano.
Boston
Acho que isso deve garantir que os próximos 12 meses sejam do jeito que vocês planejaram. Ou melhor, que sejam ainda melhores do que planejaram. Ou ainda que vocês deixem de lado essa besteira de planejamento e vivam a vida da forma mais feliz que puderem.
É melhor assim.
Vão com Deus meus queridos e que o sangue basco que corre nas veias de cada um de vocês garanta a emoção que a vida precisa.
Por aqui, os amigos ficarão torcendo e morrendo de saudades.
Pelo menos eu garanto a minha parcela de ambos.
Até a volta!
PS - Para descobrir coisas a fazer no tempo livre, cliquem aqui, aqui, aqui e também aqui.
Tive uma conversa com o Coordenador da Comissão Técnica do Céu, meu querido amigo Judas Tadeu, e acordei uma série de táticas para quando vocês estiverem fora.
O primeiro acerto foi garantir que vocês voltem, por que visitar Boston uma vez quando o curso já tiver acabado é uma coisa, fazer dos States um destino frequente de férias é algo que nem os portenhos merecem.
Depois tratamos de temas como saúde, felicidade, diversão e coisas afins.
Achei prudente reforçar algo que vocês costumam levar muito bem. Nunca é demais uma ajuda divina em algo tão humano.
Boston
Acho que isso deve garantir que os próximos 12 meses sejam do jeito que vocês planejaram. Ou melhor, que sejam ainda melhores do que planejaram. Ou ainda que vocês deixem de lado essa besteira de planejamento e vivam a vida da forma mais feliz que puderem.
É melhor assim.
Vão com Deus meus queridos e que o sangue basco que corre nas veias de cada um de vocês garanta a emoção que a vida precisa.
Por aqui, os amigos ficarão torcendo e morrendo de saudades.
Pelo menos eu garanto a minha parcela de ambos.
Até a volta!
PS - Para descobrir coisas a fazer no tempo livre, cliquem aqui, aqui, aqui e também aqui.
quarta-feira, maio 09, 2007
Pais
Há poucas semanas o pai de um grande amigo foi conversar com a Comissão Técnica do Céu deixando um espaço considerável na vida de um monte de gente, inclusive na minha, que se não era muito próximo dele, acaba admirando-o em silêncio quando cruzava com ele na descida da Consolação.
Quer dizer, para mim era uma descida, mas para ele, com 70 anos nas costas, era uma longa e cansativa subida.
Assim que soube do ocorrido, procurei fazer o que me cabia, mesmo que eu não soubesse bem o que isso significava. Eu não sabia se devia me fazer presente fisicamente ou se bastava ligar ou mesmo mandar um e-mail.
Essas coisas de cerimoniais nunca foram o meu forte e o fato dos demais amigos também não saberem o que fazer não ajudava muito.
Acabamos não visitando o hospital (nem quando ele ainda estava vivo), mas marcando presença no velório e na missa de sétimo dia.
Não foi como aquela história de Internet onde o doente terminal diz que sabia que o amigo relutante viria visitá-lo, mas acabaram sendo dois momentos bons para o reforço da nossa amizade.
Eu ainda estava sob efeito dessa solidariedade quando acabei sentindo algo muito parecido com o meu próprio sangue. Bastou uma abelha e uma alergia exagerada para que meu velho ficasse todo inchado e me enchesse de preocupação.
Felizmente não foi nada de mais, mas não foi bom pensar no que poderia ter acontecido com ele.
Sou bastante econômico nas demonstrações de sentimentos, mas tenho certeza que não estou preparado para reagir a esse tipo de perda. Não consigo entender a morte, apesar de aceitá-la e até esperá-la, mas no meu caso, não no dele. Ou da minha velha mãe ou de qualquer um da minha família.
Tenho certeza que vou "despirocar" quando isso acontecer.
Sim, por que aqui a condicional não vale. É uma coisa que depende apenas do tempo.
Outra coisa que não sei como será é a minha própria experiência como pai, isso se a Minha Mineira conseguir mesmo me convencer a largar o meu medo da responsabilidade.
Por que é exatamente isso que eu tenho quando se fala de filhos e família: medo de não ser capaz, medo de não fazer direito, medo do fracasso.
Mas acho que meu medo não é suficiente para convencê-la e terei mesmo muito assunto para expandir este tema de paternidade.
Por enquanto, fico com a dor do meu amigo e com o meu próprio susto.
Ou medo. Como queiram.
Quer dizer, para mim era uma descida, mas para ele, com 70 anos nas costas, era uma longa e cansativa subida.
Assim que soube do ocorrido, procurei fazer o que me cabia, mesmo que eu não soubesse bem o que isso significava. Eu não sabia se devia me fazer presente fisicamente ou se bastava ligar ou mesmo mandar um e-mail.
Essas coisas de cerimoniais nunca foram o meu forte e o fato dos demais amigos também não saberem o que fazer não ajudava muito.
Acabamos não visitando o hospital (nem quando ele ainda estava vivo), mas marcando presença no velório e na missa de sétimo dia.
Não foi como aquela história de Internet onde o doente terminal diz que sabia que o amigo relutante viria visitá-lo, mas acabaram sendo dois momentos bons para o reforço da nossa amizade.
Eu ainda estava sob efeito dessa solidariedade quando acabei sentindo algo muito parecido com o meu próprio sangue. Bastou uma abelha e uma alergia exagerada para que meu velho ficasse todo inchado e me enchesse de preocupação.
Felizmente não foi nada de mais, mas não foi bom pensar no que poderia ter acontecido com ele.
Sou bastante econômico nas demonstrações de sentimentos, mas tenho certeza que não estou preparado para reagir a esse tipo de perda. Não consigo entender a morte, apesar de aceitá-la e até esperá-la, mas no meu caso, não no dele. Ou da minha velha mãe ou de qualquer um da minha família.
Tenho certeza que vou "despirocar" quando isso acontecer.
Sim, por que aqui a condicional não vale. É uma coisa que depende apenas do tempo.
Outra coisa que não sei como será é a minha própria experiência como pai, isso se a Minha Mineira conseguir mesmo me convencer a largar o meu medo da responsabilidade.
Por que é exatamente isso que eu tenho quando se fala de filhos e família: medo de não ser capaz, medo de não fazer direito, medo do fracasso.
Mas acho que meu medo não é suficiente para convencê-la e terei mesmo muito assunto para expandir este tema de paternidade.
Por enquanto, fico com a dor do meu amigo e com o meu próprio susto.
Ou medo. Como queiram.
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