Presente, passado e futuro
Até que para ter sido meu potencial último aniversário comemorado em Sampa, o barulho da última quinta foi bem divertido.
Por alguns instantes eu senti o tradicional medo do fracasso, mas depois que chegou o primeiro convidado tudo ficou melhor e eu pude cair na cerveja.
O curioso é que esse primeiro corajoso a chegar ao bar foi justamente um cara que conheci há muito pouco tempo, mas que fez questão de me prestigiar. Acho que alguma coisa eu ando fazendo certo quando me relaciono com as pessoas.
Correção: por alguma razão esotérico-celestial, eu não consegui me matar de beber e parei na terceira Erdinger. Foram duas loiras, uma mulata, uma coca (light lemon, meu mais recente vício) e um sanduíche no pão ciabatta. Nada mais. Nenhum outro aditivo químico, físico ou psicológico se misturou ao meu sangue naquela noite.
O boteco se revelou bastante agradável e mesmo com uma certa falta de espaço, as pessoas se acomodaram bastante bem e niguém teve muitas razões para reclamar.
É claro que surgiram contratempos (cervejas chocas, garçons demasiadamente blasé, convidados impacientes), mas tudo acabou muito bem.
Como era de se esperar, se formaram grupos de acordo com a origem das pessoas.
A faculdade estava lá representando o passado. Quase todo o círculo interno estava lá, com direito a esposas e filhas encomendadas. Tudo muito carinhoso e cúmplice.
Eles pareciam tão felizes quanto eu.
No presente estava a Diretoria e o pessoal da "firma".
Todos muito bem animados e colocando o papo em dia, afinal de contas, um dos Diretores (o de Relações Públicas) estava de volta de uma demorada lua-de-mel no Velho Continente. Havia muita coisa para contar e depois tenho que me atualizar.
Nos dois grupos foram sentidas ausências importantes: não havia Presidente, não havia Primeira Dama e não havia o Professor. Senti falta deles mas entendo que não foi por falta de vontade e carinho que eles não estavam lá. Quem sabe da próxima?
O futuro se mostrou apenas na voz. A minha mineira me ligou várias vezes e em todas mostrou aquilo que me motiva a deixar as coisas que eu amo e buscar uma vida nova.
Me senti muito próximo dela, quase como se ela estivesse ao alcance de um beijo.
Na verdade ela estava, mas acho que me fiz entender.
Senti muita falta também dos meus companheiros de sangue, dos velhos e da minha irmã cineasta. Também entendo os motivos de cada um, mas isso não diminui a falta que eles me fizeram e nem a que farão no futuro.
A ausência do pessoal da FCAV já era esperada. Mesmo depois de dois anos juntos, a gente nunca conseguiu uma intimidade que justificasse a participação nesses eventos.
Mesmo assim, teria sido legal vê-los por lá.
Resumindo um pouco a bagunça, entre ausências sentidas e conversas animadas, acho que foi uma boa comemoração. Se foi a última na minha cidade, serviu bem ao propósito. Fiquei feliz e fiz minha gente feliz. O resto não importa.
sábado, outubro 30, 2004
quinta-feira, outubro 28, 2004
Perdendo o medo
Hoje comemoro meu 33º aniversário.
Cheguei à idade de Cristo e perdi o medo de comemorar.
Sempre tive receio de fazer festas de aniversário com medo de que as pessoas não fossem, que sobrasse comida ou que eu me visse sozinho no meio de gente desconhecida. Era como um sonho ruim pós-feijoada noturna.
Não tenho mais esse medo. Se a festinha de hoje fracassar, dane-se. Pior para quem não for dividir uma Erdinger comigo.
A deliciosa Erdinger
Na minha juventude as comemorações de aniversário tinham sempre um ar chileno.
Boa parte da colônia baixava em casa para comer cholgas, pebre, pan amassado e churrasco. Invariavelmente meu velho passava da conta e dava vexame.
Era mais ou menos a mesma coisa ano após ano.
Isso durou até que os vexames começaram a ficar maiores do que a alegria.
Aí eu parei e larguei as comemorações. Nunca mais fiz uma festa em casa.
Empanadas chilenas
Demorei para voltar a comemorar e quando o fiz, sempre sofria com aquele sentimento de abandono, uma mini-depressão que vinha da insegurança de não ser importante o suficiente para os meus amigos. Na maioria das vezes isso era infundado, uma besteira, mas eu continuava alimentando o medo de fracassar.
Talvez isso tenha algo a ver com minha auto-exigência. Sempre fiz questão de prestigiar qualquer evento dos meus amigos e talvez eu quisesse receber o mesmo em troca. Talvez eu precisasse de aprovação, tal qual o resto do mundo.
Talvez eu não fosse tão auto-suficiente quando queria parecer.
Não sei bem como eu consegui vencer isso e convocar uma tropa de assalto para beber e festar comigo. Não vai ser exatamente uma festa e sei que muita gente não vai pelas mais diversas razões, mas eu vou estar lá dando a cara para bater.
Sei que o Presidente, a minha mineira e os meus pais não vão estar lá, mas quem for vai me fazer muito feliz.
Quem estiver lá será por si só uma razão para matar esse meu medo besta.
Cada coração naquele boteco vai significar uma força a mais no meu peito.
E é disso que é feita a vida: de momentos, de amigos e de batidas fortes no peito.
E que desça mais uma Erdinger!
Hoje comemoro meu 33º aniversário.
Cheguei à idade de Cristo e perdi o medo de comemorar.
Sempre tive receio de fazer festas de aniversário com medo de que as pessoas não fossem, que sobrasse comida ou que eu me visse sozinho no meio de gente desconhecida. Era como um sonho ruim pós-feijoada noturna.
Não tenho mais esse medo. Se a festinha de hoje fracassar, dane-se. Pior para quem não for dividir uma Erdinger comigo.
A deliciosa Erdinger
Na minha juventude as comemorações de aniversário tinham sempre um ar chileno.
Boa parte da colônia baixava em casa para comer cholgas, pebre, pan amassado e churrasco. Invariavelmente meu velho passava da conta e dava vexame.
Era mais ou menos a mesma coisa ano após ano.
Isso durou até que os vexames começaram a ficar maiores do que a alegria.
Aí eu parei e larguei as comemorações. Nunca mais fiz uma festa em casa.
Empanadas chilenas
Demorei para voltar a comemorar e quando o fiz, sempre sofria com aquele sentimento de abandono, uma mini-depressão que vinha da insegurança de não ser importante o suficiente para os meus amigos. Na maioria das vezes isso era infundado, uma besteira, mas eu continuava alimentando o medo de fracassar.
Talvez isso tenha algo a ver com minha auto-exigência. Sempre fiz questão de prestigiar qualquer evento dos meus amigos e talvez eu quisesse receber o mesmo em troca. Talvez eu precisasse de aprovação, tal qual o resto do mundo.
Talvez eu não fosse tão auto-suficiente quando queria parecer.
Não sei bem como eu consegui vencer isso e convocar uma tropa de assalto para beber e festar comigo. Não vai ser exatamente uma festa e sei que muita gente não vai pelas mais diversas razões, mas eu vou estar lá dando a cara para bater.
Sei que o Presidente, a minha mineira e os meus pais não vão estar lá, mas quem for vai me fazer muito feliz.
Quem estiver lá será por si só uma razão para matar esse meu medo besta.
Cada coração naquele boteco vai significar uma força a mais no meu peito.
E é disso que é feita a vida: de momentos, de amigos e de batidas fortes no peito.
E que desça mais uma Erdinger!
domingo, outubro 17, 2004
Fim de caso
Uma vez me peguei em uma livraria procurando o livro "Fim de caso" de Graham Greene.
Tinha ouvido falar bem do escritor enquanto estava perdido em Londres e achei que poderia ser legal conhecer esse livro.
Graham Greene
O grande problema foi a minha falta de tato ao escolher a oportunidade para procurar o tal livro: eu estava recém começando meu namoro com a Rê e isso não caiu muito bem para ela. Segundo um raciocínio que só fui entender depois, eu deveria procurar qualquer coisa que tratasse de relacionamentos começando não do fim deles.
No final das contas e do relacionamento, não li o livro nem vi o filme e não pude entender a visão do escritor sobre o final de estórias que normalmente começam com juras de eternidade, concessão e sacrifício em nome do outro.
Fim de caso
Não sei se gosto de chamar meus namoros de casos. Isso me remete a coisas passageiras e sem importância e nenhum deles foi assim.
Posso não ter me apaixonado loucamente por todas as minhas namoradas, mas certamente eu não passei a chamá-las assim pensando em ter outra companhia na semana seguinte.
Se não era para sempre, pelo menos eu acreditava que duraria e que eu seria feliz no processo.
Até que na maioria deles isso aconteceu de verdade. Por mais reticente que eu tenha sido em alguns, acho que dei sorte e namorei meninas que tinham algo a acrescentar à minha vida naquele momento. Umas mais outras menos, é certo, mas todas acabaram sendo legais de alguma maneira.
Já devo ter falado sobre isso em algum momento da vida deste blog, mas acho legal voltar ao tema e comparar o que já aconteceu com aquilo que estou vivendo neste momento.
O primeiro fim foi "cantado": a gente estava amadurecendo, eu havia acabado de voltar de um processo de abertura de horizontes, ela queria manter o status quo e eu já não achava que o sacrifício valia a pena.
Já não era mais legal me submeter aos desmandos do pai e ao ciúme "sargento" dela.
Simplesmente desisti do relacionamento sem declarar abertamente.
Como era de se esperar, ela declarou e a gente foi ver o que mais havia na vida.
O segundo foi surpreendente de duas maneiras: a primeira é que eu sofri mais do que esperava e muito mais do que eu admitia publicamente.
A segunda é que ela decidiu tudo sozinha, sem ao menos curtir uma crise ou uma discussão. Não teve nem graça.
Aquela mineira não me deixou fazer parte da vida dela e eu achava que por isso estava imune a lágrimas e baixo astral. Não estava e todos os meus perceberam isso.
Do jeito que veio, ela se foi: no controle de tudo.
Não sei se posso considerar a terceira nesta mesma categoria. Foi tudo tçao fugaz que alguns nem diriam que foi um namoro.
De qualquer maneira, como eu a considerei minha namorada, acho que devo considerar também o rompimento.
Terminamos por telefone sob a alegação de que a família se opunha e que ela não queria comprar a briga.
Mais uma vez havia uma família colocando pedras no meu caminho e mais uma vez em perdia na comparação.
Com a seguinte, a já mencionada Rê, eu estava bem mais seguro sobre os rumos do relacionamento. Nem assim eu consegui controlar a coisa quando começamos a nos afastar. Foi quase que natural e mais ou menos uma inversão do que rolou com a mineira: eu não sabia o que fazer com ela e não estava disposto a ser a solução para a neuras que ela tinha.
Não a deixai entrar na minha vida e até fiquei aliviado quando ela saiu.
O quinto rompimento....esse eu não quero viver.
Não tenho nada a dizer sobre ele e não quero pensar em como eu ficaria se ele acontecesse.
Neste caso, não reconheço a existência do fim. Só quero começar de novo, continua e insistentemente. Quero renovar nosso lance até que não consigamos nos reconhecer no espelho. Aqui sim quero que reine Vinícius. Este que quero que seja eterno.
Este vai ser eterno e definitivo!
Que seja eterno enquanto dure...
Uma vez me peguei em uma livraria procurando o livro "Fim de caso" de Graham Greene.
Tinha ouvido falar bem do escritor enquanto estava perdido em Londres e achei que poderia ser legal conhecer esse livro.
Graham Greene
O grande problema foi a minha falta de tato ao escolher a oportunidade para procurar o tal livro: eu estava recém começando meu namoro com a Rê e isso não caiu muito bem para ela. Segundo um raciocínio que só fui entender depois, eu deveria procurar qualquer coisa que tratasse de relacionamentos começando não do fim deles.
No final das contas e do relacionamento, não li o livro nem vi o filme e não pude entender a visão do escritor sobre o final de estórias que normalmente começam com juras de eternidade, concessão e sacrifício em nome do outro.
Fim de caso
Não sei se gosto de chamar meus namoros de casos. Isso me remete a coisas passageiras e sem importância e nenhum deles foi assim.
Posso não ter me apaixonado loucamente por todas as minhas namoradas, mas certamente eu não passei a chamá-las assim pensando em ter outra companhia na semana seguinte.
Se não era para sempre, pelo menos eu acreditava que duraria e que eu seria feliz no processo.
Até que na maioria deles isso aconteceu de verdade. Por mais reticente que eu tenha sido em alguns, acho que dei sorte e namorei meninas que tinham algo a acrescentar à minha vida naquele momento. Umas mais outras menos, é certo, mas todas acabaram sendo legais de alguma maneira.
Já devo ter falado sobre isso em algum momento da vida deste blog, mas acho legal voltar ao tema e comparar o que já aconteceu com aquilo que estou vivendo neste momento.
O primeiro fim foi "cantado": a gente estava amadurecendo, eu havia acabado de voltar de um processo de abertura de horizontes, ela queria manter o status quo e eu já não achava que o sacrifício valia a pena.
Já não era mais legal me submeter aos desmandos do pai e ao ciúme "sargento" dela.
Simplesmente desisti do relacionamento sem declarar abertamente.
Como era de se esperar, ela declarou e a gente foi ver o que mais havia na vida.
O segundo foi surpreendente de duas maneiras: a primeira é que eu sofri mais do que esperava e muito mais do que eu admitia publicamente.
A segunda é que ela decidiu tudo sozinha, sem ao menos curtir uma crise ou uma discussão. Não teve nem graça.
Aquela mineira não me deixou fazer parte da vida dela e eu achava que por isso estava imune a lágrimas e baixo astral. Não estava e todos os meus perceberam isso.
Do jeito que veio, ela se foi: no controle de tudo.
Não sei se posso considerar a terceira nesta mesma categoria. Foi tudo tçao fugaz que alguns nem diriam que foi um namoro.
De qualquer maneira, como eu a considerei minha namorada, acho que devo considerar também o rompimento.
Terminamos por telefone sob a alegação de que a família se opunha e que ela não queria comprar a briga.
Mais uma vez havia uma família colocando pedras no meu caminho e mais uma vez em perdia na comparação.
Com a seguinte, a já mencionada Rê, eu estava bem mais seguro sobre os rumos do relacionamento. Nem assim eu consegui controlar a coisa quando começamos a nos afastar. Foi quase que natural e mais ou menos uma inversão do que rolou com a mineira: eu não sabia o que fazer com ela e não estava disposto a ser a solução para a neuras que ela tinha.
Não a deixai entrar na minha vida e até fiquei aliviado quando ela saiu.
O quinto rompimento....esse eu não quero viver.
Não tenho nada a dizer sobre ele e não quero pensar em como eu ficaria se ele acontecesse.
Neste caso, não reconheço a existência do fim. Só quero começar de novo, continua e insistentemente. Quero renovar nosso lance até que não consigamos nos reconhecer no espelho. Aqui sim quero que reine Vinícius. Este que quero que seja eterno.
Este vai ser eterno e definitivo!
Que seja eterno enquanto dure...
sexta-feira, outubro 08, 2004
Vai ser assim
Nesta última semana eu me peguei imaginando detalhes da decoração de uma casa que ainda não tenho.
Por mais vantajoso que seja morar com os pais e gozar dos confortos e mimos que isso acarreta, estou sentindo uma necessidade crescente de um canto onde largar as meias sujas sem que algum dia alguém passe recolhendo e reclamando.
Fiquei com ainda mais vontade de ter a minha estante de livros, meu armário de CDs, meus cabides de roupas e minhas contas de condomínio. ´
Parece loucura, mas quero amadurecer de vez.
No meu último devaneio havia uma estante fechada por todos os lados mas aberta na frente. Não havia vidro nem portas, apenas espaços quadrados amplos e fundos. Eram como espaços de grandes gavetas. Só os espaços. Eram cerca de nove, dispostos três a três. Era tudo muito parecido com o que vimos no Dedo de Moça de Itacaré.
O modelo
Cheguei a ver os mimos de viagem que eu e a minha mineira planejamos colecionar.
Já temos as primeiras peças, mas ainda não temos os tais "espaços de gavetas"
Os pôsteres de cinema e de música estavam grudados na parede da sala de TV. Não havia nenhum quadro. Os atores e músicos eram o próprio papel de parede. O nariz do Keanu Reeves acabou constituindo um ótimo lugar para uma das tomadas do computador e os pêlos do Chewbacca acabaram tornando o ambiente bem mais caloroso.
É certo que ver um filme olhando para tudo aquilo deixaria qualquer um com dor de cabeça, mas não é nada que uma inversão estratégica de posição não resolvesse.
180 graus depois estaria tudo perfeito.
O quarto era minimalista: a cama, um criado e o despertador. Nada de montes de armários nem de enfeites nem de penduricalhos. Só paredes limpas e cheiros agradáveis.
Na minha imaginação havia uma cama japonesa, daquelas bem baixinhas que mais pareciam colchonetes, mas a minha mineira já matou a idéia no ninho e terei que me acostumar com a impessoal e universal cama box, bem ao estilo americanóide.
O Oliver e o meu saudoso amigo Joubert eram a inspiração para a cozinha: havia um monte de peças penduradas e muitos condimentos eram retirados de uma fileira de vasinhos que eu cultivava com carinho, somente na hora de usar .
Jamie Oliver no seu Fifteen
Se eu quisesse uma pizza marguerita era só dar alguns passos, localizar o vaso do manjericão e tosar um par de ramos.
Para escorrer o macarrão bastava retirar a peça do ganchinho e eliminar o excesso de água. Ah, o pegador para a massa sairia de outro ganchinho e a concha para o molho de um terceiro. Tudo muito a mão, tudo muito aparente. Nada de ordem exagerada, nada de limpeza sem vida.
Acho que essa era a principal característica da minha casa de sonhos: nada era arrumado demais, nem certinho demais, nem quadrado demais.
Nada era demais. Só o meu prazer em chegar e estar naquele meu cantinho, naquele meu esconderijo.
No meu reino, o importante era se sentir bem e não exatamente parecer bem.
Nesta última semana eu me peguei imaginando detalhes da decoração de uma casa que ainda não tenho.
Por mais vantajoso que seja morar com os pais e gozar dos confortos e mimos que isso acarreta, estou sentindo uma necessidade crescente de um canto onde largar as meias sujas sem que algum dia alguém passe recolhendo e reclamando.
Fiquei com ainda mais vontade de ter a minha estante de livros, meu armário de CDs, meus cabides de roupas e minhas contas de condomínio. ´
Parece loucura, mas quero amadurecer de vez.
No meu último devaneio havia uma estante fechada por todos os lados mas aberta na frente. Não havia vidro nem portas, apenas espaços quadrados amplos e fundos. Eram como espaços de grandes gavetas. Só os espaços. Eram cerca de nove, dispostos três a três. Era tudo muito parecido com o que vimos no Dedo de Moça de Itacaré.
O modelo
Cheguei a ver os mimos de viagem que eu e a minha mineira planejamos colecionar.
Já temos as primeiras peças, mas ainda não temos os tais "espaços de gavetas"
Os pôsteres de cinema e de música estavam grudados na parede da sala de TV. Não havia nenhum quadro. Os atores e músicos eram o próprio papel de parede. O nariz do Keanu Reeves acabou constituindo um ótimo lugar para uma das tomadas do computador e os pêlos do Chewbacca acabaram tornando o ambiente bem mais caloroso.
É certo que ver um filme olhando para tudo aquilo deixaria qualquer um com dor de cabeça, mas não é nada que uma inversão estratégica de posição não resolvesse.
180 graus depois estaria tudo perfeito.
O quarto era minimalista: a cama, um criado e o despertador. Nada de montes de armários nem de enfeites nem de penduricalhos. Só paredes limpas e cheiros agradáveis.
Na minha imaginação havia uma cama japonesa, daquelas bem baixinhas que mais pareciam colchonetes, mas a minha mineira já matou a idéia no ninho e terei que me acostumar com a impessoal e universal cama box, bem ao estilo americanóide.
O Oliver e o meu saudoso amigo Joubert eram a inspiração para a cozinha: havia um monte de peças penduradas e muitos condimentos eram retirados de uma fileira de vasinhos que eu cultivava com carinho, somente na hora de usar .
Jamie Oliver no seu Fifteen
Se eu quisesse uma pizza marguerita era só dar alguns passos, localizar o vaso do manjericão e tosar um par de ramos.
Para escorrer o macarrão bastava retirar a peça do ganchinho e eliminar o excesso de água. Ah, o pegador para a massa sairia de outro ganchinho e a concha para o molho de um terceiro. Tudo muito a mão, tudo muito aparente. Nada de ordem exagerada, nada de limpeza sem vida.
Acho que essa era a principal característica da minha casa de sonhos: nada era arrumado demais, nem certinho demais, nem quadrado demais.
Nada era demais. Só o meu prazer em chegar e estar naquele meu cantinho, naquele meu esconderijo.
No meu reino, o importante era se sentir bem e não exatamente parecer bem.
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