Só pode haver...dois????
Até hoje está fresca na minha memória a frase mais repetida no filme "Highlander".
Para qualquer homem que foi adolescente no final dos anos 80, "só pode haver um" era a deixa perfeita para aprontar alguma barbaridade com o resto da turma.
A simulação das lutas dos imortais do filme era um divertimento besta, mas hilário.
Frisson igual eu só conheci com as imitações do barulho do sabre de luz do Luke Skywalker.
Muito bem. Como já não era mais aquele adolescente magro e meio lento, eu achava que a tal frase não teria muito mais sentido fora das telas. Ainda gostava de rever o filme, mas já não tinha aquela identificação com a busca do MacLeod pela imortalidade e pelo "grande prêmio".
Recentemente, após anos, rugas e quilos a mais, acabei me aproximando novamente da frase e sentindo vontade de alterá-la um pouco para adaptá-la ao que estava vivendo.
Na minha nova realidade, a frase virou "só pode haver dois: eu e o Presidente."
Não sei se a concordância está correta mas a idéia é essa mesma: no final das contas, depois que a gente exclui os ocupados, os perdidos, os encoleirados e os blasés, sempre sobramos eu e o Presidente para pensar e tentar resolver os problemas do mundo em alguma mesa de bar do lado sudoeste da cidade.
É incrível como essa rotina se repete, por mais que a gente gaste horas e horas de celular para convocar o séquito, por mais impulsos que se usem, invariavelmente a mesa acaba tendo apenas dois lugares. Ou algum múltiplo, quando temos a sorte de estarmos acompanhados das namoradas, fiéis escudeiras da nossa sina quixotesca. Não vou chamá-las de Sancho Pança ou acabo apanhando, mas é mais ou menos isso mesmo: onde estão os Quixotes, elas estão junto.
Talvez fosse melhor se fosse diferente, se fôssemos inseparáveis como os Waltons, ou se sentissemos as dores dos outros como os gêmeos, mas isso é algo que não dá para escolher.
É preciso querer e parece que só a gente quer. Ao menos na maioria das vezes, o entusiasmo do grupo, da família, se resume ao Presidente e à mim.
Como não é possível entender, direcionar e muito menos controlar as vidas dos amigos mais próximos, fica o registro de que até entre grupos de grandes amigos, alguns são mais amigos que outros e sempre vale mais a pena o coletivo do que o individual.
Que seja assim, que a gente continue junto e que sempre sobrem ao menos dois. Nós dois.
terça-feira, maio 25, 2004
terça-feira, maio 18, 2004
Não dá para fugir
Há algumas semanas eu acabei queimando a língua por conta de algo que sempre me pareceu claro e indiscutível.
Sempre defendi a idéia de que a gente, nós bípedes descontrolados, somos mais o efeito das experiências vividas do que aquilo que nos foi passado pouco depois do nascimento.
Eu tratava com indisfarçado desprezo comentários do tipo "fui criado assim", "me ensinaram assado", "só sei desse jeito". Isso sempre me pareceu preguiçoso e acomodado.
Foi preciso uma banda escocesa para que eu fizesse um mea culpa e me desse conta de que poderia estar errado desde o começo.
Durante aquela "hora e meia" acabei percebendo que quem estava lá rindo à toa com os trejeitos dos caras e com o delírio da galera era o cara que tinha medo de dançar com as meninas nos bailes e não o bronco que assusta todos que se aproximam.
Era notório como eu estava mais feliz ali, sem escudos, do que com toda a "bagagem" que acabo exibindo todos os dias.
Não quero dizer que minha vida é um desperdício e que só foi bom naquela época. Jamais. O ponto é que eu continuo sendo daquele jeito, mesmo que eu não goste de admitir.
Continuo sendo o moleque cabeçudo que levava pão com ovo para um recreio onde todos, virtualmente "todos" compravam misto disso ou xis daquilo.
Por mais que eu pense que foi bom o tempo ter passado rápido, faz parte do pacote ser o pré-adolescente que vendia passes escolares para comprar gibis de heróis.
Hoje eu sou aquele menino acrescido de cicatrizes, lembranças e algumas "marcas de expressão". Mudei mas sou mais ou menos o mesmo.
Devo ao Teenage Fanclub a percepção de que funciono mais como soma do que como sobreposição.
Sou forçado a admitir que gosto da idéia de crescer em torno daquilo que meus pais e as primeiras experiências de vida formaram.
Espero que minha irmã cineasta, minha frequente companhia neste tipo de experiência, tenha um pouco mais de sobriedade para não cometer os mesmo erros e desprezar o que lhe foi preparado.
Pensando bem, ela é tão parecida comigo que certamente vai fazer a mesma coisa e acabar aprendendo a lição quando tiver um pouco mais de quilometragem na carcaça.
Sorte dela que eu sempre vou estar por perto.
Há algumas semanas eu acabei queimando a língua por conta de algo que sempre me pareceu claro e indiscutível.
Sempre defendi a idéia de que a gente, nós bípedes descontrolados, somos mais o efeito das experiências vividas do que aquilo que nos foi passado pouco depois do nascimento.
Eu tratava com indisfarçado desprezo comentários do tipo "fui criado assim", "me ensinaram assado", "só sei desse jeito". Isso sempre me pareceu preguiçoso e acomodado.
Foi preciso uma banda escocesa para que eu fizesse um mea culpa e me desse conta de que poderia estar errado desde o começo.
Durante aquela "hora e meia" acabei percebendo que quem estava lá rindo à toa com os trejeitos dos caras e com o delírio da galera era o cara que tinha medo de dançar com as meninas nos bailes e não o bronco que assusta todos que se aproximam.
Era notório como eu estava mais feliz ali, sem escudos, do que com toda a "bagagem" que acabo exibindo todos os dias.
Não quero dizer que minha vida é um desperdício e que só foi bom naquela época. Jamais. O ponto é que eu continuo sendo daquele jeito, mesmo que eu não goste de admitir.
Continuo sendo o moleque cabeçudo que levava pão com ovo para um recreio onde todos, virtualmente "todos" compravam misto disso ou xis daquilo.
Por mais que eu pense que foi bom o tempo ter passado rápido, faz parte do pacote ser o pré-adolescente que vendia passes escolares para comprar gibis de heróis.
Hoje eu sou aquele menino acrescido de cicatrizes, lembranças e algumas "marcas de expressão". Mudei mas sou mais ou menos o mesmo.
Devo ao Teenage Fanclub a percepção de que funciono mais como soma do que como sobreposição.
Sou forçado a admitir que gosto da idéia de crescer em torno daquilo que meus pais e as primeiras experiências de vida formaram.
Espero que minha irmã cineasta, minha frequente companhia neste tipo de experiência, tenha um pouco mais de sobriedade para não cometer os mesmo erros e desprezar o que lhe foi preparado.
Pensando bem, ela é tão parecida comigo que certamente vai fazer a mesma coisa e acabar aprendendo a lição quando tiver um pouco mais de quilometragem na carcaça.
Sorte dela que eu sempre vou estar por perto.
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