quarta-feira, fevereiro 04, 2004

O que importa de verdade

Moro no Brasil desde 77. Era mais ou menos na época em que o Travolta estava "mordendo" as meninas que davam mole nas noites de sábado e que o Rocky estava fugindo da fonoaudióloga para paracer "mais natural".

Vim para cá não mais do que um pivete. Ainda sou pequeno mas certamente tenho muito mais estórias para contar.

O que eu gosto no Brasil?
Amo as curvas da geografia e da anatomia, o futebol, o tutu de feijão da minha "sogra", os pés de galinha da minha mineira, os litros vividos com os amigos, o talento "pra dentro" da minha irmã cineasta e os dentes ainda meio indefinidos da menina com nome de sentimento.
Tudo isto é Brasil pra mim.

Se este país tem tanta coisa que me agrada, por que diabos eu ainda me sinto tão ligado à terra natal?
Por que será que aquela coisinha minguada, espremida entre a montanha e o mar me causa tanto fascínio e faz tão parte do que fui, sou e serei?

Essa não foi exatamente a razão que me levou àquela parte do mundo neste mês que passou, mas já que eu estava por lá, não custava fazer uma pesquisa interna.
Por falar em motivos, os parentes estavam todos vivos e bem. Alguns meio cansados, outros um pouco mais gordos, alguns mais bonitos do que eu esperava (minha menininha) e outros ainda mais insuportáveis. Feliz ou infelizmente eles são a minha família e às vezes dou graças a Deus por tê-los. Longe, é verdade, mas tê-los.

Busquei razões na comida. Não foi nada difícil sentir algo diferente ao me deliciar com o congrio frito, com o mariscal frio, com as humitas, com o pastel de choclo, com as machas a la parmesana, com as empanadas de pino, com a cazuela de ave, com a ensalada de centollas e com os porotos granados. A minha mineira ficou especialmente apaixonadas por estes últimos, o que constitui um sério risco à camada de ozônio já que eu também não fico por menos nesse quesito.
Só para não deixar escapar nada, ainda testei o efeito do melão calameño, dos duraznos e das ciruelas.
Tudo tinha o toque de que eu me lembrava. Tudo remetia à infância e ao meu avô que me chamava de huesillo e do qual eu não me lembro fora da cama. Isso se explica por que eu tinha 5 anos quando ele morreu (após um longo período "de molho") e quando a minha mãe me levou para longe. Para o Brasil.

Parece incrível, mas até mesmo as rucas indígenas do sul e o ar seco e poluído da capital ainda me faziam um bem que eu não sei descrever direito.
Eu sou aquilo, mais ou menos da mesma forma que sou isto também. Sou o tropical e o temperado, o É o Tchan e o Inti Illimani, o Zico e o Caszely. Sou ambos e me orgulho disso. Por mais paradoxal que isso possa parecer, sou dois ao mesmo tempo e não vivo nenhum conflito.
Sou feliz sendo dois.

Y viva Chile, mierda!!!

Achei que esta seria uma boa maneira de voltar ao meu amado e esquecido blog.
Não vou prometer mas vou me esforçar para aparecer por aqui (e no Vinil) ao menos uma vez por semana. Valeu.

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