Intensidade
Aquela pinta no lado esquerdo da boca dá a ela um jeito meio Cindy Crawford de ser.
O jeito como ela arruma o cabelo longo e castanho é impossível de não ser notado.
A risada está a meio caminho entre o tímido e o escrachado, sempre com pouca preocupação com o que os outros podem pensar.
Até a mania de puxar a mini blusa, que teima em subir e mostrar a sua pele branca, a faz ficar mais charmosa.
Apesar de ter falado dela com fingida propriedade, mal conheço a moça da pinta na boca.
Na verdade, eu conheço mais a sua obra do que a autora. Não que ela seja menos interessante do que a obra, isso está anos-luz longe da verdade, mas é que ainda não tive oportunidade de saber muito mais do que todo leitor sabe.
Ela escreve e bem em um lugar muito popular. Escreve sobre relacionamentos, sentimentos e as conseqüências de ambos. Acredito que, assim como eu, ela escreva sobre o que vive ou use alguns elementos da sua vida para criar estórias sobre coisas que interessem às pessoas.
Já li coisas sobre casamento, sexo, alegrias extremas e nomes esquisitos. Houve também palavras sobre a traição e sobre o desamor.
Tudo no mesmo estilo emocional, tudo da mesma forma passional, tudo com o mesmo jeitinho fingidamente seguro.
Das poucas coisas que sei, a maioria não me foi dita pessoalmente.
Talvez não maioria do que realmente importe, mas certamente a maioria do que vou mencionar aqui.
Sei que ela foi casada com um cara com quem sonhou durante anos.
Sei que ela foi muito feliz, construiu sonhos, visitou lugares, dirigiu por países de língua estranha e aprendeu a cozinhar divinamente.
Sei que deixou de amar uma pessoa e passou a amar outra, sem muito tempo para colocar as coisas no lugar entre um relacionamento e outro.
Sei que ela não faz nada que não seja intenso, forte, quase extremo.
Sei que ela não tem vocação para ser a outra, mesmo que isso signifique abrir mão do grande amor da sua vida.
Sei que ela é de Touro, mas prefiro não descobrir muito mais coisas neste setor.
Sei que seu nome mudou de acordo com as migrações dos seus ancestrais e que hoje a confundem com uma colônia devido a um certo detalhe anatômico.
Sei que ela tem três tatuagens, três gatos e vários livros empacados na vigésima página.
Com tudo isso que sei, ainda não dá para dizer que sei algo que realmente importe.
Ainda não posso dizer que a conheço ou que sou seu amigo.
Espero ter a oportunidade de seguir aprendendo as coisas que estão por trás daquele jeito Cindy Crawford de ser.
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