sexta-feira, junho 30, 2006

Terapia

Não me lembro bem quando começou, mas sempre que eu me sentia angustiado ou deprimido, a música me recebia de braços abertos e me acolhia com seu jeito terno de quem nunca tem problemas e sempre está feliz.
Se ela fosse um ser vivo, talvez não tivesse mesmo, mas não tenho essa sorte e sempre tenho que processar e segurar as barras que pintam na minha vida e na vida das pessoas que amo.
E quando a coisa extrapola meus limites, eu tenho a música.

Ontem foi um dia desses e quem substituiu Mozza no papel de aplacador de angústias foram os sulinos do Acústico MTV Bandas Gaúchas.
Era um DVD comprado há meses e que pedia emocionadamente para ser tocado.
Aproveitei o bode e mandei ver.
E foi bom para mim, foi muito bom para mim.
Esqueci um pouco os motivos da tristeza e sonhei um pouco.

Não quis colocar o ex-líder dos Smiths em Manchester por temer as lágrimas.
Já aconteceu de eu começar a me lembrar do passado e de ficar com mais saudade do que deveria.
E nada pior do que agir como um museu e achar que o passado é que era bom e que do futuro só se podem esperar tristezas.

Hoje já estou melhor e depois de uma conversa com meu chefe, senti um pouco mais de esperança na melhoria de um dos aspectos desta minha vida repleta de comédias.
O outro também está a caminho e depende de uma série de acertos com a minha mineira.
Mas as coisas vão melhorar e a música sempre estará lá para garantir isso.

Por que se não melhorarem, haja choradeira e DVDs dos Smiths!

sexta-feira, junho 23, 2006

Datas

Este meu casamento é uma coisa realmente engraçada.
Minto. Na verdade o namoro já era engraçado e o casamento acabou alterando um pouquinho a rotina.
Que outra palavra além de engraçado pode descrever um relacionamento onde o homem se preocupa muito mais com datas comemorativas do que a mulher.
E não estou me referindo ao aniversário de um ano, dois meses, cinco dias e vinte e cinco minutos do primeiro beijo. Falo de aniversários de namoro e do dia em que a gente se conheceu.
Pode até parecer inacreditável, mas enquanto a gente não morava juntos, era muito mais fácil que eu solta-se um "parabéns" no meio do telefonema do que o contrário.
Naturalmente, ela devolvia um outro "parabéns", mas não era raro ela deixar escapar um "ah, é!" antes de sincronizar o calendário.

Não que isso seja uma falta grave, mas certamente é algo curioso no ambiente machista em que vivemos aqui nos trópicos.
Chega a ser ridículo o tradicionalismo que divide as tarefas entre o masculino e o feminino. Isso me parece tão antigo que não me privo de gargalhar quando alguém solta uma dessas na minha frente.
Na minha vida de casado e mesmo na de solteiro, esse tipo de divisão não tem lugar.
Acredito muito mais em iniciativa e capacidade do que em obrigatoriedade.

Mas voltando à memória para datas, depois de algum tempo a minha mineira passou a se antecipar e a lembrar das comemorações. A coisa ficou tão competitiva que eu fui forçado a apelar para uma cola: gravei as principais datas em uma medalhinha que não tiro nem para ensaiar a encomenda do herdeiro.
Nesta medalha estão gravadas a data de início do namoro, a data do noivado e a data do enforcamento final, costumeiramente conhecido como casamento.
Assim não corro risco de perder informações extremamente úteis para a minha integridade física.

Mas o fato de termos diferentes tempos para lembrar das celebrações, não há como negar que ambos gostamos muito de festejar e de lembrar dos primeiros tempos do nosso contato e dos rodeios para o primeiro beijo.
Mal dá para acreditar que a gente tenha feito tanto charme antes de se entregar.
Hoje a gente parece um só de tanto que seguimos no mesmo caminho. Apesar do aprendizado diário e do esforço constante, nos damos muito bem e não temos nenhuma dificuldade em determinar onde comemoraremos tudo o que conseguimos, de um aumento de salário a mais uma vitória do Tricolor.

E mais do que gostar de celebrar, ambos desenvolvemos um gosto especial por preparar surpresas e criar produções para surpreender o outro.
Tradicionalmente, eu acabo criando um número maior de situações, surpresas e produções, mas a minha mineira também é bastante feliz quando resolve agir na surdina e me deixar de boca aberta com ações mais do que surpreendentes.
A próxima surpresa está sendo armada para a semana que vem.
Mesmo sendo na segunda-feira, o Dia dos Namorados vai render uma troca de presentes secretos e um vinhozinho em casa, para embalar a confraternização íntima da sequência.
É bastante provável que o tradicional jantar aconteça no sábado, apesar do meu temor de que enfrentemos um crowd dos piores. Imagino que o mundo inteiro vá ter a mesma idéia, mas não vejo outra alternativa.
Pior seria sair na segunda ou mesmo na terça, depois do jogo do Brasil.

A única certeza que tenho é que desta vez não haverá esquecimentos e nem super-produções. Vão rolar algumas surpresas, claro, mas nada fora do comum.
O importante é a dedicação sincera e a vontade de fazer o outro feliz.
E para isso, não preciso de medalhinha para me lembrar.
Basta olhar para dentro e deixar a coisa acontecer.

segunda-feira, junho 12, 2006

Bem vindo, babe

Um viva para o Brunão, que chegou a este mundo em grande estilo como só o tio dele havia feito antes: na madrugada de sábado para domingo e com 2,8kg de puro sex appeal.
Ele chegou pequenino, cansadinho e cabeludinho, igualzinho à mãe dele, mas como a genética não pode ser vencida, daqui a pouco ele começa a fazer o sucesso devido na ala feminina.
Afinal de contas, alguém da família precisa fazer algo bom no meio da mulherada.

A minha Lelê ganha um irmão para cuidar e eu ganho outra razão para visitar o Chile.
Se não bastassem a minha avó, a própria Lelê e o país em si, agora tenho um sobrinho com meu sobrenome.

E daqui a pouco vem mais um membro do outro lado da família.
O Johnny chega em algumas semanas e a minha mineira não vai caber em tanta felicidade.
À partir daí, mais feliz só quando ela mesma abraçar o herdeiro, mas isso é assunto para alguns anos no futuro.

sexta-feira, junho 02, 2006

Nascido para a coisa

Eu não gosto de crianças!
Digo isso de boca cheia por que não suporto a gritaria, a bagunça e a sujeira associadas a um moleque mal educado, mimado e egocêntrico, que foi habituado a ter tudo o que quer e a medir o valor das pessoas pela quantidade de bolinhas que o tênis de cada um possui.
Me sinto mal ao ver uma menina de dois anos se vestindo como a Madonna na fase vagabond chic e usando as mesmas gírias da novela das oito.
Tenho pitis quando um ranhento vem me pedir uma coisa e ao ouvir minha negativa, corre para pedir para o pai ou para outra pessoa.
Em um resumo mais do que executivo, não gosto de crianças!

Mas o grande problema e a grande sina da minha vida é que elas gostam de mim, aliás, gostam muito de mim.
Talvez por conta da minha cara de mau e do meu zelo patológico por limites.
Talvez pela minha aparente falta de preocupação quando eles rolam no chão enquanto choram por algo que eu não concordei em ceder.
Ou talvez ainda pelo fato de eu não falar "mamanhês" e usar palavras que eu usaria no trabalho ou na mesa de bar.
Por mais que eu deteste admitir, os pequenos gostam de mim, ao menos aqueles que ainda não são casos perdidos.

Isso me leva a pensar no que muitos dos meus amigos dizem sobre mim quando tocam no assunto paternidade. Segundo eles, eu tenho cara de pai e meu destino está traçado.
Invariavelmente eu rio e mando todos para aqueles lugares de onde não se volta mais, mas a gozação continua e pior, as razões para as brincadeiras se perpetuam.
Ou será que dá para entender um cara que diz não gostar de crianças e fica horas deitado no chão ao lado de um bebê de um ano, só trocando olhares e batendo uma garrafa vazia da Coca Cola no chão?

Pensando friamente, ainda discuto essa máxima de que tenho cara de criador de ranhentos, mas é impossível encontrar qualquer argumento que enfraqueça a idéia de que a minha mineira nasceu para ser mãe.
Ela diz que esse é um sonho dela desde sempre e só eu sei a quantidade de sonhos eternos que essa minha esposa tem. Aos poucos eles foram se realizando e algo me diz que esse não será exceção.

Por via das dúvidas, já comprei mais um livro do Parsons e vou me preparando de uma forma bem inglesa e intelectual para não ter mais noites inteiras de sono pelo menos até os 18 anos de idade do herdeiro.
Tenho que treinar para o caso de mudar de idéia e resolver focar na preservação do nome da família do meu pai.
Espero que esse negócio de ser pai não seja muito diferente do que eles fazem lá nas Ilhas.
Ai Jesus!